Por: Phillipe Pomier Layrargues - Biólogo Especialista em Educação e Planejamento Ambiental pela UFF, mestre em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pela UFRJ E Doutorando em Ciências Sociais pela Unicamp
O AMBIENTALISMO E O QUESTIONAMENTO DA SOCIEDADE INDUSTRIAL DE CONSUMO
O ambientalismo, movimento histórico originado a partir do recente reconhecimento dos assustadores efeitos negativos da intervenção antrópica na biosfera, em sua crítica ao modelo civilizatório ocidental, reprovou os paradigmas norteadores da sociedade industrializada de consumo. Como alternativa, propôs que se efetuasse uma alteração no rumo das coisas, objetivando a elaboração dos pilares de uma nova era, pautada a partir de agora não mais no esgotamento da natureza mas na sustentabilidade ambiental.
Sobre a alteração do rumo das coisas, cuja questão relevante diz respeito à necessidade de desvio da rota de colisão em que a civilização industrial se encontra, Soffiati (1987) fez uma alusão à imagem metafórica do veículo dirigindo-se em alta velocidade em direção ao precipício. Diante desse panorama, duas alternativas despontam como possibilidades de enfrentamento do risco da catástrofe: pisar no freio e diminuir a velocidade para mudar de rumo ou pisar no acelerador para ganhar impulso e saltar o precipício. A mensagem da metáfora é clara: mais vale a pena garantir a continuidade da vida e mudar de rumo do que arriscar-se numa tarefa suicida.
Isso quer dizer que o modelo de desenvolvimento convencional – pautado no mercado como instância reguladora da vida social, em que a política de desenvolvimento científico-tecnológico ocorre sobretudo em função da demanda do mercado em maximizar o lucro – conduz-nos velozmente em direção ao precipício, ao mesmo tempo em que advoga que este mesmo padrão tecnológico convencional que nos colocou nessa situação será capaz de encontrar as soluções. Postula que sairemos da crise acentuando aquilo que nos trouxe a ela, apesar de o bom senso dizer que é mais prudente alterar todo o estado das coisas presentes na doutrina da economia neoclássica.
O físico Fritjof Capra (1982) foi quem melhor traduziu o significado dessa proposta de transformação, ao postular a proximidade de a humanidade atingir um ponto de mutação, no qual as forças competitivas cederiam lugar às forças cooperativas, o individualismo seria substituído pelo coletivismo, a visão de mundo reducionista cederia vez à sistêmica e o curto prazo seria suplantado pelo longo prazo. Desencadeada por uma marcante presença de valores pós-materialistas, numa clara ruptura com a ordem instituída, a idéia básica que norteia o pensamento ambientalista original, intitulado de ambientalismo radical, incide na proposição da alteração de paradigmas, deslocando o eixo da racionalidade econômica para a ecológica, na qual o mercado deixaria de ser considerado como a única e majoritária instância reguladora da sociedade e determinante da economia, cedendo espaço crescentemente à natureza, com seus princípios ecológicos para cumprir essa função em igualdade de condições. Em outras palavras: as leis da natureza encontrariam espaço na imposição de normas sociais na mesma medida em que as leis do mercado impõem as suas regras. Com a superação do antagonismo verificado na relação entre desenvolvimento e proteção ambiental, teríamos assim a substituição do confronto pela compatibilização dos interesses entre economia e ecologia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário